sexta-feira, 3 de outubro de 2014

UMA PEQUENA (E TRISTE) HISTÓRIA SOBRE A BANCADA DO RN NO SENADO



As eleições de domingo farão a renovação de 1/3 dos senadores, cabendo a cada estado, eleger um senador.  No caso do RN, historicamente a composição das bancadas tem mostrado o grau de conservadorismo e o completo controle dos clãs sobre o RN. 
Quem tiver a curiosidade de ler esse texto exploratório, poderá ser tomado por ódio, desespero ou esperança.
Até 1930, período em que o Partido Republicano (PR) reinou único sobre o Brasil, com seus “escritórios oligárquicos” funcionando nos estados, com eleições escandalosamente manipuladas, o Senado era um clube de velhos oligarcas e funcionava como uma espécie de “demonstração de poder” desses grupos encastelados no poder.
A Revolução de 30 não quebrou a lógica da manutenção das oligarquias no poder e aqui no RN, embora as disputas locais tivessem sido acirradas num primeiro momento, mas não entre progressistas e conservadores, mas entre os que tomaram o poder e os que queriam voltar, em 1934, com a vitória do Partido Popular (embrião de um futuro PMDB), as coisas voltam ao seu “leito normal”, com os chefes oligárquicos retomando o controle.
Naquela ocasião os eleitos, depois de quatro anos sem Senado, foram Eloy de Souza, uma velha raposa republicana[1]; Joaquim Ignácio de Carvalho Filho, outro oriundo do velho coronelismo potiguar[2], já que ambos eram “chefiados” por José Augusto e Dinarte Mariz, as duas principais figuras do RN de então.
Em 1937 veio o golpe que dissolveu o Senado e só em dezembro de 1945, com as primeiras eleições gerais depois do Golpe, é que o Senado voltou a funcionar. Em quem foram os dois senadores eleitos pelo RN?
Georgino Avelino, que fora deputado estadual entre 1924-26, e que fora interventor do RN em 1944, ou seja, dispunha de boa penetração entre os círculos do poder local e nacional, pelo Partido Social Democrático (PSD), o sucessor do PP local; e José Ferreira de Sousa, ex-deputado federal (1935-37) [3], intimamente ligado aos clãs que controlavam a UDN (José Augusto e Dinarte Mariz).
Georgino Avelino criaria raízes no Senado, só deixando a cadeira de senador para ir direto para o túmulo, em 1959, enquanto Ferreira de Sousa não seria reeleito em 1954.
Nas eleições suplementares de 1947, onde foi eleito mais um senador, o senador eleito foi um pecuarista e plantador de algodão, o “ouro branco” local, João Câmara, um “coronel” de Baixa Verde, eleito pelo PSD.
A primeira bancada senatorial do RN depois de 45 foi formada pelos políticos ligados à oligarquia do algodão e assim ficaria. Kerginaldo Cavalcanti assumiu em 1948, decido à morte de João Câmara, mas ele próprio fora ligado a Ferreira Chaves e também fora deputado estadual na época da República Velha e deputado federal pelo Partido Nacionalista (1933-37).
Em 1954, o 2/3 do Senado foi preenchido por Dinarte Mariz (UDN) [4], a maior liderança político do RN, chefe de clã do Seridó e sucessor, na liderança dos clãs, de José Augusto e Georgino Avelino, foi reeleito. Nada de novo no front. Em 1955, Mariz foi eleito governador e sua vaga foi preenchida por Reginaldo Fernandes, que “esquentou” a cadeira do líder, que retornaria em 1963 e daí só sairia, assim como Georgino Avelino, para o caixão em 1979.
Em 1958, na eleição do 1/3 o eleito foi Dix-Huit Rosado, um udenista que em 1950 rompera com Dinarte e José Augusto e se lançara pelo pequeno PR e fora eleito, e reeleito, deputado federal em 1950 e 1954. Em 1958 Dix-Huit venceu a eleição, dessa vez apoiado por Dinarte e enterrando definitivamente a liderança de José Augusto. O Oeste emergia como força política. Briga de clãs contra clãs.
No final da década de 50 a bancada senatorial era formada por Dix-Huit Rosado, Reginaldo Fernandes ( o “esquenta banco” de Dinarte) e Sérgio Marinho (PTB), que assumira a vaga do falecido Georgino Avelino.
Mas é bom citar que o apoio de Dinarte (UDN) à Dix-Huit Rosado (PR), em detrimento do velho coronel José Augusto, geral uma série de conflitos com uma liderança que emergia DENTRO da UDN, Aluízio Alves, que rompera com DInarte e vencerá seu candidato, Djalma Marinho, nas eleições de 1960, para o governo estadual, fazendo nascer uma longa briga entre os Mariz e os Alves.
Em 1962 foram realizadas as últimas eleições gerais antes do Golpe de Abril de 1964 e no caso do Senado era para preencher 2/3 das cadeiras. Os eleitos foram o ex-governador Dinarte Mariz, que assim voltava ao Senado; e o padre conservador, também do Seridó, Walfredo Gurgel, vice-governador e um dos responsáveis pela vitória de Aluizio, pois brecara Dinarte no Seridó.
No fim da débil democracia, inaugurada em 1946, a bancada senatorial do RN era composta pelo padre conservador Walfredo Gurgel, aliado de Aluizio Alves; por Dinarte Mariz, chefe do Seridó e inimigo da Aluizio; e Dix-Huit Rosado, aliado de Dinarte e chefe do Oeste.
Em 1° de abril de 1964 era dado um golpe militar, que extingue todos os partidos e muda as regras eleitorais e de representação. Dinarte e Aluizio apoiaram OSTENSIVAMENTE o Golpe e os 3 senadores aderiram, de IMEDIATO, ao golpe militar.
Com a criação da Aliança Renovadora Nacional (ARENA) e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), em 1965, aqui se formou a ARENA “verde”, ligada a Aluizio e a ARENA “vermelha”, ligada a Dinarte Mariz.
Em 1966, na renovação de 1/3 do Senado as duas ARENAs fizeram um pacto e Duarte Filho (ARENA), de Mossoró, foi eleito tranquilamente.
Nessa época a bancada do RN era formada por Dinarte Mariz; Duarte Filho e Manoel Villaça, suplente de Walfredo Gurgel e que estava no cargo desde 1963. Os três eram da ARENA e eram legítimos representantes dos clãs locais.
Mas Dinarte, amigo dos militares, não deixou fugir a oportunidade e conseguiu a cassação de Aluizio Alves, em 1969, tornando-se o “rei do RN”.
Nas eleições para preencher 2/3 do Senado, em 1970, Dinarte foi novamente reeleito, enquanto Jessé Pinto Freire, comerciante de Macaíba que era deputado federal desde 1958 e que fora aliado fiel de Aluizio até sua cassação, é eleito senador, sob a tutela de Dinarte Mariz. A representação senatorial do RN era DINARTE MARIZ.
Em dezembro de 1973 faleceu o senador Duarte e assumiu a vaga Luiz Barros, ligado aos empresários do comércio e chefe político em São Gonçalo do Amarante, que era o seu suplente.
Em 1974 é renovado 1/3 do Senado. O poder de Dinarte Mariz foi abalado pela inesperada vitória do pequeno comerciante, Agenor Maria, candidato do MDB, que se tornara uma “franquia” dos Alves desde 1969. A vitória de Agenor, um político “baixo escalão” fora fruto de um distanciamento entre Jessé Freire e Dinarte, o que fortalecera Agenor em Natal, e pelo final sinuoso do governo biônico de Cortez Pereira, acusado de uma série de irregularidades.
Dinarte Mariz (ARENA), Jessé Freire (ARENA “moderada”) e Agenor Maria (MDB), formavam a bancada potiguar no Senado na década de 1970.
Destaque-se a emergência de um novo clã, os Maia, primos dos Rosado, e que por afinidade com os militares conseguiram que seu chefe, Tarcísio Maia, fosse indicado governador em 1974. Começava ai uma grande mudança na política do RN com a decadência dos velhos clãs. Tarcísio Maia obteve de Aluízio Alves, o compromisso de não fazer uma “oposição violenta” e em troca haveria um relaxamento das perseguições ao MDB local. E o acordo foi feito.
Com o “pacote de Abril”, de 1977, o governo militar cria a figura do “senador biônico”, indicado pelos militares e eleito indiretamente, com o propósito de bloquear qualquer possibilidade que o MDB tivesse de eleger uma maioria no Senado.
Nas eleições de 1978, veio o golpe de misericórdia no velho cacique Dinarte Mariz. Tarcisio Maia faz um acordo com Aluízio Alves para garantir a reeleição de Jessé Pinto Freire (ARENA), contra a candidatura defendida por Dinarte, a de Dix-Huit Rosado. Tarcisio derrotara os Rosado e os Mariz, em aliança com os Alves, que indicaram para vice-governador o usineiro Geraldo Melo. O grande derrotado foi Radir Pereira (MDB), que foi abandonado pelos Alves.
Assim, em 1978 Dinarte Mariz (ARENA), era o senador indicado pelos militares; Jessé Freire (ARENA) fora eleito com o apoio de Tarcisio-Aluizio; e Agenor Maria (MDB), eram os senadores do RN.
A “paz pública” não durou muito. O bipartidarismo foi extinto e emergiram o Partido Democrático Social (PDS) e o PMDB, sucessores da ARENA e MDB, além de outros partidos, como o Partido dos Trabalhadores (PT), fundado em 1979.
Em 1980 faleceu Jessé Freire e o seu suplente Moacir Duarte (PDS), o chefe político inconteste de Umarizal (Oeste) assumiu a cadeira.
Nas eleições de 1982, os Maia com o controle do poder elegeram o governado (José Agripino Maia) e escolheram para preencher o 1/3 do Senado um dos maiores camaleões da política do RN, Carlos Alberto de Sousa, que fizera carreira política no MDB, ficou no PMDB, mas logo foi cooptado pelo regime militar e aderiu ao PDS, tornando-se defensor aguerrido dos generais.
Carlos Alberto de Sousa não era oriundo de nenhum clã político, na realidade viera de família pobre e sua ascensão deveu-se principalmente ao fato de ter sido ajudado por Aluizio Alves, que lhe empregara na Radio Cabugi, numa época em que as emissoras de rádio tinham forte penetração. Depois da sua “conversão”, Carlos Alberto conseguiu ser indicado pelos Maia e foi eleito tranquilamente.
Em 1984 Dinarte Mariz (PDS) morre e o seu suplente, Moacir Duarte, deputado estadual desde 1947 e que fora secretário de Tarcísio Maia, assume.
No final do regime militar, a bancada do RN era formada por Carlos Alberto de Sousa (PDS); Martins Filho, que migrara para o PMDB em 1984; e Moacir Duarte (PDS), um fiel aliado dos Maia.
Nas primeiras eleições para preencher 2/3 do Senado, depois da redemocratização, as duas cadeiras foram ocupadas pelos líderes dos Maia, José Agripino Maia, ex-governador (1982-86), pelo PFL; e Lavoisier Maia, também ex-governador (1979-82), pelo PDS, mostrando a força do clã Maia.
Nas eleições de 1990 ocorreu uma ruptura dentro do clã Maia, entre José Agripino Maia e Lavoisier Maia (agora no PDT) e estes polarizaram o processo eleitoral. Lavoisier Maia fez um acordo com os Alves e Garibaldi Alves Filho, sobrinho de Aluizio Alves, foi lançado a senador. Agripino (PFL) bateu Lavoisier (PDT), mas não conseguiu reeleger seu senador preferido, Carlos Alberto de Sousa, que foi batido por Garibaldi Alves Filho.
Na realidade os Maia não perderam muito, pois mesmo perdendo a eleição para o governo, Lavoisier Maia manteve sua cadeira no Senado. A bancada do Senado agora teria Lavoisier Maia (PDT); Garibaldi Alves Filho (PMDB), que apoiara Lavoisier Maia; e Dario Pereira de Macêdo, suplente de José Agripino, um fiel aliado dos Maia.
Nas eleições de 1994 o cenário mudara. O PFL fizera uma aliança nacional com o PSDB, mas no RN Maia e Alves permaneciam numa intensa luta, que arrastava os Rosado para ela. Lavoisier rompera com Aluízio e lançara-se, novamente, ao governo do estado, dessa vez apoiado por José Agripino Maia, que deixara de ser governador e queria voltar ao Senado. O PMDB, lançou Garibaldi Filho ao governo estadual e o ex-governador Geraldo Melo (1986-90), agora no PSDB, para a vaga.
Agripino Maia e Geraldo Melo foram eleitos senadores facilmente. Com a posse de Garibaldi Filho como governador, assumiu o suplente Fernando Bezerra, empresário, dono da construtora ECOCIL. Vale lembrar que todos os senadores apoiaram o governo Fernando Henrique Cardoso, a tal ponto que Fernando Bezerra, ainda no PMDB, chegou a ser líder do governo, em 1998. Maia e Alves controlam o Senado de maneira tranquila.
Em 1997 FHC fez aprovar a Emenda Constitucional que passava a permitir a reeleição para prefeitos, governadores e presidentes da República. Alves e Maia apoiavam FHC, mas no RN a disputa pelo poder era acirrada. Os Alves descartaram Geraldo Melo (PSDB) e este passou a apoiar Agripino Maia, que se lançou ao governo do estado, mas foi batido por Garibaldi Alves, agora ancorado pela máquina governamental.
Na eleição do 1/3 para o Senado, a grande disputa foi entre o então suplente de Garibaldi Filho, Fernando Bezerra, e o Carlos Alberto de Sousa (PSDB), debilitado pela doença que o mataria, mas com o apoio de Agripino. A máquina governista elegeu Fernando Bezerra. A bancada do senado permaneceria a mesma.
Em 1999 Fernando Bezerra torna-se ministro da Integração Nacional e o seu suplente, Agnelo Alves, assume. Bezerra reassumirá em 2001, quando foi demitido acusado de favorecimento ilícito.
Nas eleições de 2002 lançam o ex-governador (1994-2002) Garibaldi Alves para a vaga no Senado, o que faz com que Fernando Bezerra, agora no PSDB, rompa com os Alves e alie-se aos Maia, lançando-se ao governo do estado, deixando Agripino livre para concorrer ao preenchimento dos 2/3. É uma disputa sem chance para Geraldo Melo (PSDB). Maia e Alves, na figura das suas principais lideranças, Garibaldi e Agripino, voltam a controlar o Senado.
Ao iniciar-se o governo Lula, a bancada do Senado do RN é formada por Garibaldi Alves (PMDB), Agripino Maia (PFL) e Fernando Bezerra (PTB).
Nas eleições de 2006, para recompor 1/3 do Senado. Maia e Alves voltam a se unir em torno da candidatura de Rosalba Ciarlini (PFL), do clã Rosado. Fernando Bezerra (PTB), derrotado ao governo estadual e sem o apoio dos Maia e Alves, lança-se apoiado pela esquerda; e Geraldo Melo (PSDB), tenta novamente eleger-se senador, mas já com a carreira política no ocaso. Rosalba Ciarlini (PFL) vence Fernando Bezerra (PTB), por pouco mais de 10 mil votos, o que consolidaria a aliança Alves-Maia.
Em 2010, são realizadas novas eleições, dessa vez para preencher 2/3 das cadeiras do Senado, novamente os Alves e Maia forjam uma aliança, dessa vez indicando para o governo a senadora Rosalba Ciarlini, e os dois se lançam à reeleição e, de fato são reeleitos tranquilamente, batendo Wilma de Faria (PSB). Na vaga deixada por Rosalba Ciarlini, assume o patriarca do clã Alves, Garibaldi Alves.
Além disso, Garibaldi Filho é nomeado ministro da Previdência do governo Dilma, em 2011, e Paulo Davim, ex-deputado estadual, seu suplente, assume.
Em 2014, os Alves e Maia controlam tranquilamente o Senado e, em nova aliança com Wilma, agora vice-prefeita de Natal a lança para recompor 1/3 do Senado.
Como epílogo devo dizer que a representação senatorial do RN, desde 1945, tem servido como depósito de clãs que em seu inabalável poder, tem mantido nossa representação federativa refém de uma política que cristaliza seu domínio sobre o estado.
A grande pergunta é: até quando?



[1] Deputado Estadual  (1895 a 1897), deputado Federal  (1897 a 1914/1927 a 1930) e senador ( 1914 a 1921/1921 a 1927)
[2] Deputado Estadual  (1913 a 1917) e vice-governador (1928 a 1930) de Juvenal Lamartine.
[3] Filho do coronel Ezequiel Mergelino de Sousa, chefe político de Santa Cruz.
[4] Detalhe : Mariz fora derrotado em 1945 e 1950, nas eleições para o Senado do RN

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