As
eleições de domingo farão a renovação de 1/3 dos senadores, cabendo a cada
estado, eleger um senador. No caso do
RN, historicamente a composição das bancadas tem mostrado o grau de
conservadorismo e o completo controle dos clãs sobre o RN.
Quem tiver a curiosidade de ler esse texto exploratório, poderá ser tomado por ódio, desespero ou esperança.
Até
1930, período em que o Partido Republicano (PR) reinou único sobre o Brasil,
com seus “escritórios oligárquicos” funcionando nos estados, com eleições
escandalosamente manipuladas, o Senado era um clube de velhos oligarcas e
funcionava como uma espécie de “demonstração de poder” desses grupos
encastelados no poder.
A
Revolução de 30 não quebrou a lógica da manutenção das oligarquias no poder e
aqui no RN, embora as disputas locais tivessem sido acirradas num primeiro
momento, mas não entre progressistas e conservadores, mas entre os que tomaram
o poder e os que queriam voltar, em 1934, com a vitória do Partido Popular
(embrião de um futuro PMDB), as coisas voltam ao seu “leito normal”, com os
chefes oligárquicos retomando o controle.
Naquela
ocasião os eleitos, depois de quatro anos sem Senado, foram Eloy de Souza, uma
velha raposa republicana[1]; Joaquim Ignácio de
Carvalho Filho, outro oriundo do velho coronelismo potiguar[2], já que ambos eram
“chefiados” por José Augusto e Dinarte Mariz, as duas principais figuras do RN de
então.
Em
1937 veio o golpe que dissolveu o Senado e só em dezembro de 1945, com as
primeiras eleições gerais depois do Golpe, é que o Senado voltou a funcionar.
Em quem foram os dois senadores eleitos pelo RN?
Georgino
Avelino, que fora deputado estadual entre 1924-26, e que fora interventor do RN
em 1944, ou seja, dispunha de boa penetração entre os círculos do poder local e
nacional, pelo Partido Social Democrático (PSD), o sucessor do PP local; e José
Ferreira de Sousa, ex-deputado federal (1935-37) [3], intimamente ligado aos
clãs que controlavam a UDN (José Augusto e Dinarte Mariz).
Georgino
Avelino criaria raízes no Senado, só deixando a cadeira de senador para ir
direto para o túmulo, em 1959, enquanto Ferreira de Sousa não seria reeleito em
1954.
Nas
eleições suplementares de 1947, onde foi eleito mais um senador, o senador
eleito foi um pecuarista e plantador de algodão, o “ouro branco” local, João
Câmara, um “coronel” de Baixa Verde, eleito pelo PSD.
A
primeira bancada senatorial do RN depois de 45 foi formada pelos políticos
ligados à oligarquia do algodão e assim ficaria. Kerginaldo Cavalcanti assumiu
em 1948, decido à morte de João Câmara, mas ele próprio fora ligado a Ferreira
Chaves e também fora deputado estadual na época da República Velha e deputado
federal pelo Partido Nacionalista (1933-37).
Em
1954, o 2/3 do Senado foi preenchido por Dinarte Mariz (UDN) [4], a maior liderança
político do RN, chefe de clã do Seridó e sucessor, na liderança dos clãs, de
José Augusto e Georgino Avelino, foi reeleito. Nada de novo no front. Em 1955,
Mariz foi eleito governador e sua vaga foi preenchida por Reginaldo Fernandes,
que “esquentou” a cadeira do líder, que retornaria em 1963 e daí só sairia,
assim como Georgino Avelino, para o caixão em 1979.
Em
1958, na eleição do 1/3 o eleito foi Dix-Huit Rosado, um udenista que em 1950
rompera com Dinarte e José Augusto e se lançara pelo pequeno PR e fora eleito,
e reeleito, deputado federal em 1950 e 1954. Em 1958 Dix-Huit venceu a eleição,
dessa vez apoiado por Dinarte e enterrando definitivamente a liderança de José
Augusto. O Oeste emergia como força política. Briga de clãs contra clãs.
No
final da década de 50 a bancada senatorial era formada por Dix-Huit Rosado,
Reginaldo Fernandes ( o “esquenta banco” de Dinarte) e Sérgio Marinho (PTB),
que assumira a vaga do falecido Georgino Avelino.
Mas
é bom citar que o apoio de Dinarte (UDN) à Dix-Huit Rosado (PR), em detrimento
do velho coronel José Augusto, geral uma série de conflitos com uma liderança
que emergia DENTRO da UDN, Aluízio Alves, que rompera com DInarte e vencerá seu
candidato, Djalma Marinho, nas eleições de 1960, para o governo estadual,
fazendo nascer uma longa briga entre os Mariz e os Alves.
Em
1962 foram realizadas as últimas eleições gerais antes do Golpe de Abril de
1964 e no caso do Senado era para preencher 2/3 das cadeiras. Os eleitos foram
o ex-governador Dinarte Mariz, que assim voltava ao Senado; e o padre
conservador, também do Seridó, Walfredo Gurgel, vice-governador e um dos
responsáveis pela vitória de Aluizio, pois brecara Dinarte no Seridó.
No
fim da débil democracia, inaugurada em 1946, a bancada senatorial do RN era
composta pelo padre conservador Walfredo Gurgel, aliado de Aluizio Alves; por
Dinarte Mariz, chefe do Seridó e inimigo da Aluizio; e Dix-Huit Rosado, aliado
de Dinarte e chefe do Oeste.
Em
1° de abril de 1964 era dado um golpe militar, que extingue todos os partidos e
muda as regras eleitorais e de representação. Dinarte e Aluizio apoiaram
OSTENSIVAMENTE o Golpe e os 3 senadores aderiram, de IMEDIATO, ao golpe
militar.
Com
a criação da Aliança Renovadora Nacional (ARENA) e o Movimento Democrático
Brasileiro (MDB), em 1965, aqui se formou a ARENA “verde”, ligada a Aluizio e a
ARENA “vermelha”, ligada a Dinarte Mariz.
Em
1966, na renovação de 1/3 do Senado as duas ARENAs fizeram um pacto e Duarte
Filho (ARENA), de Mossoró, foi eleito tranquilamente.
Nessa
época a bancada do RN era formada por Dinarte Mariz; Duarte Filho e Manoel
Villaça, suplente de Walfredo Gurgel e que estava no cargo desde 1963. Os três
eram da ARENA e eram legítimos representantes dos clãs locais.
Mas
Dinarte, amigo dos militares, não deixou fugir a oportunidade e conseguiu a
cassação de Aluizio Alves, em 1969, tornando-se o “rei do RN”.
Nas
eleições para preencher 2/3 do Senado, em 1970, Dinarte foi novamente reeleito,
enquanto Jessé Pinto Freire, comerciante de Macaíba que era deputado federal
desde 1958 e que fora aliado fiel de Aluizio até sua cassação, é eleito
senador, sob a tutela de Dinarte Mariz. A representação senatorial do RN era
DINARTE MARIZ.
Em
dezembro de 1973 faleceu o senador Duarte e assumiu a vaga Luiz Barros, ligado
aos empresários do comércio e chefe político em São Gonçalo do Amarante, que
era o seu suplente.
Em
1974 é renovado 1/3 do Senado. O poder de Dinarte Mariz foi abalado pela
inesperada vitória do pequeno comerciante, Agenor Maria, candidato do MDB, que
se tornara uma “franquia” dos Alves desde 1969. A vitória de Agenor, um político
“baixo escalão” fora fruto de um distanciamento entre Jessé Freire e Dinarte, o
que fortalecera Agenor em Natal, e pelo final sinuoso do governo biônico de
Cortez Pereira, acusado de uma série de irregularidades.
Dinarte
Mariz (ARENA), Jessé Freire (ARENA “moderada”) e Agenor Maria (MDB), formavam a
bancada potiguar no Senado na década de 1970.
Destaque-se
a emergência de um novo clã, os Maia, primos dos Rosado, e que por afinidade
com os militares conseguiram que seu chefe, Tarcísio Maia, fosse indicado
governador em 1974. Começava ai uma grande mudança na política do RN com a
decadência dos velhos clãs. Tarcísio Maia obteve de Aluízio Alves, o
compromisso de não fazer uma “oposição violenta” e em troca haveria um
relaxamento das perseguições ao MDB local. E o acordo foi feito.
Com
o “pacote de Abril”, de 1977, o governo militar cria a figura do “senador
biônico”, indicado pelos militares e eleito indiretamente, com o propósito de
bloquear qualquer possibilidade que o MDB tivesse de eleger uma maioria no
Senado.
Nas
eleições de 1978, veio o golpe de misericórdia no velho cacique Dinarte Mariz.
Tarcisio Maia faz um acordo com Aluízio Alves para garantir a reeleição de
Jessé Pinto Freire (ARENA), contra a candidatura defendida por Dinarte, a de
Dix-Huit Rosado. Tarcisio derrotara os Rosado e os Mariz, em aliança com os
Alves, que indicaram para vice-governador o usineiro Geraldo Melo. O grande
derrotado foi Radir Pereira (MDB), que foi abandonado pelos Alves.
Assim,
em 1978 Dinarte Mariz (ARENA), era o senador indicado pelos militares; Jessé
Freire (ARENA) fora eleito com o apoio de Tarcisio-Aluizio; e Agenor Maria
(MDB), eram os senadores do RN.
A
“paz pública” não durou muito. O bipartidarismo foi extinto e emergiram o
Partido Democrático Social (PDS) e o PMDB, sucessores da ARENA e MDB, além de
outros partidos, como o Partido dos Trabalhadores (PT), fundado em 1979.
Em
1980 faleceu Jessé Freire e o seu suplente Moacir Duarte (PDS), o chefe
político inconteste de Umarizal (Oeste) assumiu a cadeira.
Nas
eleições de 1982, os Maia com o controle do poder elegeram o governado (José
Agripino Maia) e escolheram para preencher o 1/3 do Senado um dos maiores camaleões
da política do RN, Carlos Alberto de Sousa, que fizera carreira política no MDB,
ficou no PMDB, mas logo foi cooptado pelo regime militar e aderiu ao PDS,
tornando-se defensor aguerrido dos generais.
Carlos
Alberto de Sousa não era oriundo de nenhum clã político, na realidade viera de
família pobre e sua ascensão deveu-se principalmente ao fato de ter sido
ajudado por Aluizio Alves, que lhe empregara na Radio Cabugi, numa época em que
as emissoras de rádio tinham forte penetração. Depois da sua “conversão”, Carlos
Alberto conseguiu ser indicado pelos Maia e foi eleito tranquilamente.
Em
1984 Dinarte Mariz (PDS) morre e o seu suplente, Moacir Duarte, deputado
estadual desde 1947 e que fora secretário de Tarcísio Maia, assume.
No
final do regime militar, a bancada do RN era formada por Carlos Alberto de
Sousa (PDS); Martins Filho, que migrara para o PMDB em 1984; e Moacir Duarte
(PDS), um fiel aliado dos Maia.
Nas
primeiras eleições para preencher 2/3 do Senado, depois da redemocratização, as
duas cadeiras foram ocupadas pelos líderes dos Maia, José Agripino Maia,
ex-governador (1982-86), pelo PFL; e Lavoisier Maia, também ex-governador
(1979-82), pelo PDS, mostrando a força do clã Maia.
Nas
eleições de 1990 ocorreu uma ruptura dentro do clã Maia, entre José Agripino
Maia e Lavoisier Maia (agora no PDT) e estes polarizaram o processo eleitoral.
Lavoisier Maia fez um acordo com os Alves e Garibaldi Alves Filho, sobrinho de
Aluizio Alves, foi lançado a senador. Agripino (PFL) bateu Lavoisier (PDT), mas
não conseguiu reeleger seu senador preferido, Carlos Alberto de Sousa, que foi
batido por Garibaldi Alves Filho.
Na
realidade os Maia não perderam muito, pois mesmo perdendo a eleição para o
governo, Lavoisier Maia manteve sua cadeira no Senado. A bancada do Senado
agora teria Lavoisier Maia (PDT); Garibaldi Alves Filho (PMDB), que apoiara
Lavoisier Maia; e Dario Pereira de Macêdo, suplente de José Agripino, um fiel aliado
dos Maia.
Nas
eleições de 1994 o cenário mudara. O PFL fizera uma aliança nacional com o
PSDB, mas no RN Maia e Alves permaneciam numa intensa luta, que arrastava os
Rosado para ela. Lavoisier rompera com Aluízio e lançara-se, novamente, ao
governo do estado, dessa vez apoiado por José Agripino Maia, que deixara de ser
governador e queria voltar ao Senado. O PMDB, lançou Garibaldi Filho ao governo
estadual e o ex-governador Geraldo Melo (1986-90), agora no PSDB, para a vaga.
Agripino
Maia e Geraldo Melo foram eleitos senadores facilmente. Com a posse de
Garibaldi Filho como governador, assumiu o suplente Fernando Bezerra, empresário,
dono da construtora ECOCIL. Vale lembrar que todos os senadores apoiaram o
governo Fernando Henrique Cardoso, a tal ponto que Fernando Bezerra, ainda no
PMDB, chegou a ser líder do governo, em 1998. Maia e Alves controlam o Senado
de maneira tranquila.
Em
1997 FHC fez aprovar a Emenda Constitucional que passava a permitir a reeleição
para prefeitos, governadores e presidentes da República. Alves e Maia apoiavam
FHC, mas no RN a disputa pelo poder era acirrada. Os Alves descartaram Geraldo
Melo (PSDB) e este passou a apoiar Agripino Maia, que se lançou ao governo do
estado, mas foi batido por Garibaldi Alves, agora ancorado pela máquina
governamental.
Na
eleição do 1/3 para o Senado, a grande disputa foi entre o então suplente de Garibaldi
Filho, Fernando Bezerra, e o Carlos Alberto de Sousa (PSDB), debilitado pela
doença que o mataria, mas com o apoio de Agripino. A máquina governista elegeu
Fernando Bezerra. A bancada do senado permaneceria a mesma.
Em
1999 Fernando Bezerra torna-se ministro da Integração Nacional e o seu
suplente, Agnelo Alves, assume. Bezerra reassumirá em 2001, quando foi demitido
acusado de favorecimento ilícito.
Nas
eleições de 2002 lançam o ex-governador (1994-2002) Garibaldi Alves para a vaga
no Senado, o que faz com que Fernando Bezerra, agora no PSDB, rompa com os
Alves e alie-se aos Maia, lançando-se ao governo do estado, deixando Agripino
livre para concorrer ao preenchimento dos 2/3. É uma disputa sem chance para
Geraldo Melo (PSDB). Maia e Alves, na figura das suas principais lideranças, Garibaldi
e Agripino, voltam a controlar o Senado.
Ao
iniciar-se o governo Lula, a bancada do Senado do RN é formada por Garibaldi Alves
(PMDB), Agripino Maia (PFL) e Fernando Bezerra (PTB).
Nas
eleições de 2006, para recompor 1/3 do Senado. Maia e Alves voltam a se unir em
torno da candidatura de Rosalba Ciarlini (PFL), do clã Rosado. Fernando Bezerra
(PTB), derrotado ao governo estadual e sem o apoio dos Maia e Alves, lança-se
apoiado pela esquerda; e Geraldo Melo (PSDB), tenta novamente eleger-se
senador, mas já com a carreira política no ocaso. Rosalba Ciarlini (PFL) vence Fernando
Bezerra (PTB), por pouco mais de 10 mil votos, o que consolidaria a aliança
Alves-Maia.
Em
2010, são realizadas novas eleições, dessa vez para preencher 2/3 das cadeiras
do Senado, novamente os Alves e Maia forjam uma aliança, dessa vez indicando para
o governo a senadora Rosalba Ciarlini, e os dois se lançam à reeleição e, de
fato são reeleitos tranquilamente, batendo Wilma de Faria (PSB). Na vaga
deixada por Rosalba Ciarlini, assume o patriarca do clã Alves, Garibaldi Alves.
Além
disso, Garibaldi Filho é nomeado ministro da Previdência do governo Dilma, em 2011, e Paulo Davim, ex-deputado estadual, seu suplente, assume.
Em
2014, os Alves e Maia controlam tranquilamente o Senado e, em nova aliança com
Wilma, agora vice-prefeita de Natal a lança para recompor 1/3 do Senado.
Como epílogo devo dizer que a representação senatorial do RN, desde 1945, tem servido como depósito de clãs que em seu inabalável poder, tem mantido nossa representação federativa refém de uma política que cristaliza seu domínio sobre o estado.
A grande pergunta é: até quando?
[1]
Deputado Estadual (1895 a 1897),
deputado Federal (1897 a 1914/1927 a
1930) e senador ( 1914 a 1921/1921 a 1927)
[2]
Deputado Estadual (1913 a 1917) e
vice-governador (1928 a 1930) de Juvenal Lamartine.
[3]
Filho do coronel Ezequiel Mergelino de Sousa, chefe político de Santa Cruz.
[4] Detalhe
: Mariz fora derrotado em 1945 e 1950, nas eleições para o Senado do RN
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