Terminada
a apuração dos votos para o Senado, a deputada federal Fátima Bezerra (PT), foi
a grande vencedora, derrotando Wilma de Faria (PSB), com uma vantagem de mais
de 160 mil votos. Essa derrota de uma força que contou com o apoio dos clãs
Alves e Maia, pode ser retratada como uma das maiores derrotas de Wilma de
Faria, desde que se tornou a “guerreira”, que derrotara os clãs e que era vista
como imbatível eleitoralmente.
Fátima Bezerra : impôs uma derrota histórica a Wilma |
A
carreira política de Wilma de Faria não começou quando ela foi lançada pelos
Maia para as eleições municipais de 1985 em Natal, as primeiras desde a década
de 60. Sua trajetória iniciou-se dentro do clã e do governo de Lavoisier Maia
(seu esposo), quando foi nomeada presidente do Movimento de integração e
Orientação Social (MEIOS), um monumental cabide de empregos, que só seria
extinta recentemente sob força da lei, em 1979 e em 1983, já no governo de José
Agripino tornou-se secretária de Trabalho e Bem Estar Social (STBS).
Wilma em 1984 : ascensão política dentro do clã Maia |
Os
Maia, acreditando na força do trabalho social de Wilma, que trabalha nas
periferias dos maiores centros urbanos, a lançou para enfrentar o sobrinho de
Aluizio Alves, o deputado estadual Garibaldi Alves Filho. Nesse momento os
Maia, que controlavam o PFL e o PDS,
fizeram uma coligação, mas foram batidos nas urnas. No batismo de fogo
de Wilma Maia, ela foi derrotada.
Em
1986 é eleita, pelo PDS, deputada federal, mas logo migra para o PDT e nos
trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte, assume uma postura progressista.
E em julho de 1988, num acordo entre o PSD, PFL e PDT, Wilma Maia e Rosalba
Ciarlini se filiam ao PDT, com o propósito de enfrentar o PMDB nas eleições
municipais.
Nas
eleições municipais de 1988, Wilma bateu-se com o deputado federal Henrique Eduardo Alves, filho de
Aluízio e que iria suceder seu primo na cadeira de prefeito. Wilma obteve
93.728 votos, contra 86.808 dados a Henrique. No segundo embate direto contra
os Alves, Wilma vencia pela primeira vez.
Wilma Maia em 1988 : impôs a primeira derrota a Henrique Alves |
Em
1991 Wilma separa-se de Lavoisier Maia e passa a chamar-se Wilma de Faria e sai
do PDT, entrando para o PSB, mais a esquerda do que o próprio PDT. A grande
aposta de Wilma foi lançar o pouco conhecido Aldo Tinôco, contra o poderoso
Henrique Alves, que tinha todos os elementos para vencer já que o PFL lançara a
inexpressiva irmã de Henrique, Ana Catarina Alves. Wilma, apoiada pelo
PCdoB/PCB/PV venceu as duas maiores oligarquias, numa eleição vencida, no
segundo turno, por Aldo, com uma inacreditável diferença de 961 votos (Henrique
– 112.032 e Aldo – 112.993).
Wilma
emergia como a “guerreira”, mulher capaz de dobrar os dois maiores clãs e
introduzir um programa progressista no RN, começando de Natal. Mas os clãs lhe
deram o troco. Em 1994 Wilma disputou o governo do estado, mas foi esmagada
pela máquina dos clãs, amargando um quarto lugar, com apenas 3,8% dos votos, atrás
de Mineiro (PT), com4,8%; Lavoisier Maia, com 38,7%; e Garibaldi Alves Filho,
com 52,7%.
Mas
Wilma começou a passar a imagem de Fênix, pois se reorganizara politicamente e
nas eleições para a prefeitura de Natal, em 1996, Wilma voltou aos braços do clã
Maia e enfrentou a deputada estadual Fátima Bezerra (PT) e no segundo turno
obteve 51,7% dos votos contra 48,3% dados a Fátima. Com o apoio do PFL de
Agripino, Wilma voltava ao poder.
Mas
em 1998 Wilma rompe novamente com os Maia e caminha em direção aos Alves, com
que se alia para a reeleição da prefeitura de Natal em 2000. Wilma, dessa vez
apoiada pelo PMDB. Novamente o embate foi com Fátima Bezerra (PT), mas dessa
vez, com a poderosa máquina do governo estadual, sua vitória foi no primeiro
turno, com 52,3% dos votos, contra 26,6% dados a Fátima. Wilma agora era a
grande campeã dos votos e aparecia como uma nova força política. Chegara a hora
de articular seu próprio clã, que seria viabilizado pelo seu partido, o PSB. O
vice de Wilma era o deputado estadual Carlos Eduardo Alves, um dissidente do
PMDB, que logo migraria para o PSB “wilmista”.
Wilma de Faria governadora de 2002 a 2010 : "domadora" de clãs? |
E
Wilma daria seu maior vôo. Em 2002 renuncia ao seu mandato para lançar-se ao
governo do estado, território dos poderosos clãs Maia e Alves. Os Alves não
apoiaram Wilma e esta lançou-se basicamente sem apoio de nenhuma força política
expressiva, apoiada pelos inexpressivos PGT e PST, enfrentando a máquina do
governo, que lançara Fernando Freire (PMDB); contra o poderoso industrial
Fernando Bezerra (PTB), apoiado pelos Maia; e Ruy Pereira (PT). Wilma bateu a
todos no primeiro turno, com 37,6% dos
votos e foi para o segundo turno contra o candidato dos Alves, Fernando Freire.
Mais
uma vez Wilma buscou, e obteve, o apoio dos Maia e venceu com folga Fernando
Freire, com 61,1% dos votos, contra 38,9% do mesmo. Mais do que o apoio de Agripino, Wilma
conseguiu o apoio dos chefetes locais e com o apoio de Wilma a Lula, o que
atraiu grande parte do voto progressista.
Wilma
capitaneou a força de Lula e colou sua imagem à dela. Era a mais nova expressão
do progressismo no RN e passou, a partir dai a pavimentar seu próximo objetivo
: a reeleição. E teria ninguém pela frente ninguém menos do que o mais poderoso
chefe de clã do RN, que estava no Senado, mas que mantinha, junto com Henrique,
o controle do PMDB e também apoiava o governo Lula : Garibaldi Alves Filho.
Wilma,
que fizera um governo progressista, agora buscava agrupar forças para enfrentar
o leviatã peemedebista. Desde 2004 Maia e Alves se aproximaram e Wilma buscou
aliados. O deputado estadual Robinson Faria, que entrara no minúsculo PMN, lhe
deu apoio e em 2005 Wilma cooptou duas lideranças do clã Rosado (Laíre e
Sandra). A força de Wilma se fez presente na reeleição de Carlos Eduardo e o
cenário para 2006 se mostrava, pela primeira vez, bem favorável ao “wilmismo”.
O
novo “wilmismo”, agora com força para enfrentar Alves e os decadentes Maia,
iria buscar apoio, tal qual os clãs tradicionais, nos redutos mais
conservadores. A cooptação de alguns Rosado e de chefes locais, como João Maia
(PL) e Nélio Dias (PP), fariam parte dessa estratégia. O vínculo progressista
de Wilma começava a desaparecer porque ela passou a adotar a mesma regra de
pactuação política tradicional.
Nas
eleições de 2006, Wilma enfrentou Garibaldi, apoiado por José Agripino, e dessa
vez conseguiu formar uma aliança de centro-esquerda, que incluía inclusive o
PT, com quem nunca mantivera boas relações. A batalha eleitoral foi feroz.
Wilma obteve 49,6% e Garibaldi 48,6%, apenas 15..003 votos no primeiro turno.
No segundo turno Wilma venceu Garibaldi Alves, com 52,4% a 47,6%. Wilma
conseguira o que parecia impossível : bateu os dois maiores clãs e mais o clã
Rosado.
O
segundo governo Wilma rapidamente fez seu perfil progressista se esvair, com o
enfraquecimento das políticas sociais e com o surgimento de várias denúncias de
irregularidades, que levaram a prisão do seu filho, em 2008. Wilma, que vencera
os clãs, agora via seu próprio clã ser ameaçado pois era fustigada
permanentemente pelos Alves e Maia, ferozes adversários do governo.
Em
2008 as eleições municipais em Natal fariam emergir um cenário complexo. Wilma
apoiaria Fátima Bezerra (PT) que receberia o apoio, não muito empolgado dos
Alves, e mais uma vez enfrentaria os Maia, que apoiariam Micarla de Sousa
(PV). Os grandes e pequenos clãs se
reposicionaram e Wilma, uma “lulista” de primeira linha, agora se aproximava,
meio a contragosto dos Alves. A vitória de Micarla de Sousa, ainda no primeiro
turno, foi um sinal amarelo para Wilma, que teria que buscar seu rumo, já que
não poderia ser mais reeleita ao governo estadual.
Em
2010 Alves, Maia e Rosado se uniram novamente e dessa vez articularam a eleição
para o governo e para preencher as duas cadeiras no Senado. Wilma, isolada,
pois perdera o apoio de Carlos Eduardo Alves (PDT), lançou-se candidata ao
senado, só que dessa vez enfrentaria os Alves, Maia e Rosado unidos. E o
resultado foi catastrófico. Wilma não foi eleita e o seu candidato ao governo,
o vice Iberê Ferreira de Sousa, foi surrado nas urnas por Rosalba Ciarlini
(DEM).
Mas
já em 2012 Wilma ressurgiria. Reaproximou-se de Carlos Eduardo, que concorreria
à prefeitura de Natal e mais uma vez teria pela frente os Alves, agora apoiando
o deputado estadual Hermano Morais (PMDB) e os Maia, apoiando o deputado
federal Rogério Marinho (PSDB), um dissidente do “wilmismo”. Wilma aceitou ser
a vice de Carlos Eduardo (PDT), como forma de voltar à cena política, e a
vitória de Carlos Eduardo, batendo dos três clãs (Maia, Alves e Rosado), fez
ressurgir a fênix. Wilma voltara ao cenário.
A
volta de Wilma, agora já completamente “adaptada” ao pragmatismo que conduzia
as alianças políticas tradicionais, fez com que a mesma mantivesse a sua
postura “progressista”, apoiando Dilma. Em 2013, quando Eduardo Campos rompeu
com Dilma, Wilma manteve-se numa posição equidistante, evitando romper com o
governo.
Mas
as eleições de 2014 faria ressurgir a aliança Alves-Maia, só que dessa vez a
costura para a composição das chapas excluiria a governadora Rosalba Ciarlini,
devido à sua péssima gestão. Essa “fritura” de Rosalba, primeiro pelo PMDB e depois
por Agripino, levou ao rompimento dos Rosado e uma costura de todos os clãs,
dividindo os cargos. Wilma foi incluída como a candidata ao senado, já que
Garibaldi e Agripino tem suas cadeiras garantidas.
Wilma, Henrique, Garibaldi e Agripino juntos : como perder uma eleição com esse apoio? |
Alicerçada
pelo apoio de Henrique, o todo-poderoso presidente da Câmara, a candidatura de
Wilma, que rompeu com Dilma e passou a apoiar Eduardo Campos (e depois Marina),
parecia ser imbatível, afinal sua principal adversária, Fátima Bezerra (PT),
que a enfrentava pela terceira vez, não possuía grandes contingentes de
pequenos chefetes.
Wilma,
aos 69 anos, perdeu de novo. Sua longa trajetória, sinuosa e bastante
pragmática, a fez oscilar entre um progressismo constituinte a um novo
conservadorismo, com pouca ou nenhuma vontade de quebrar um ciclo de governos
de clãs. Wilma, com seus inúmeros movimentos pendulares, entregou-se ao mais
puro e simples fisiologismo.
Perdeu
para Fátima Bezerra, a persistente deputada federal que, de forma inteligente
articulou um amplo arco de apoios e que minou as bases de Wilma e do “wilmismo”
que, como nunca conseguiu formar seu próprio clã, ficou, de novo, à mercê dos
Alves e Maia, além do apoio da governadora Rosalba Ciarlini, ela mesma
defenestrada por esses mesmos clãs. E novamente foi abandonada.
Essa
derrota certamente não encerrará a carreira política de Wilma de Faria, mas
ficará na história como o ocaso da Fênix.
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