E
aconteceu o que a Esquerda potiguar mais temia: a união de (quase) todos os
clãs do nosso pobre e bonito RN em torno de uma candidatura. A reedição mais
ampla da “paz pública”, inaugurada em 1978 entre o coronel do Seridó, Dinarte
Mariz e o persistente Aluizio Alves. O anúncio da pré-candidatura, um eufemismo
chato, pois até os mortos sabem que as convenções dos partidos chamados
“burgueses” são encontros que servem apenas para dar um ar legal ao que já foi
decidido nas mesas dos seus chefes e para juntarem seus “apoiadores” e estes,
em êxtase muitas vezes remunerado, exaltarem as figuras dos seus líderes, foi
feito nessa sexta (28), mostrou a força dos clãs.
Henriques
Alves, líder do PMDB, filho de Aluizio Alves, presidente da Câmara de
Deputados, terceiro na hierarquia da república, e deputado federal desde 1970,
construiu, de forma rápida e eficiente uma aliança eleitoral que daria inveja ao
seu pai, tal a amplitude e força que a sustenta. Desde o decadente Geraldo Melo
até a sempre fênix Wilma de Faria, Henrique recebeu apoios entusiásticos das
famílias que formam o mosaico dos clãs potiguares.
E
que as esquerdas não sejam hipócritas nas críticas ao “acordão”. Se o mesmo
Henrique tivesse fechado o apoio a Fátima Bezerra hoje estaria sendo saudado
nos blogs e nos discursos tanto de PT como de PCdoB, já que até fins do ano
passado a expectativa era que o PMDB fechasse esse acordo e isolasse
definitivamente o DEM, a noiva de 2010 que virou morto-vivo em 2014.
João
Maia, dono do pomposo Partido da República (PR) [1], chegou ao evento no Praia
Mar Hotel, trazendo a tiracolo o deputado estadual George Soares, líder do Vale
do Açú, o vereador Adão Eridan e da sua consorte, Zenaide Maia, já ungida para
sucedê-lo na Câmara de Deputados, no melhor estilo familiar. Atrás dele vários
prefeitos faziam profissão de fé para saudar Henrique.
A
dinâmica do pragmatismo político do RN é de dar nó em cientista política e
criar uma atmosfera de descrença absoluta na arte da política. Em 2008 Fátima
fora apoiada por Henrique, Garibaldi e Wilma contra Micarla, então apoiada por
José Agripino. Posteriormente Wilma foi isolada e jogada aos leões, enquanto o
PMDB aliava-se ao DEM para destruir, digo governar o RN. Wilma encontrou apoio
em Carlos Eduardo (PDT) que lhe deu a condição de vice-prefeita e ambos
derrotaram o PMDB, apoiado pelo DEM, nas eleições de 2012 para a prefeitura de
Natal. Agora Carlos mantém sua aliança com Wilma e reaproxima-se da sua
família, depois das trocas de farpas de 2012.
O “chapão”
parece que será formado pelo PMDB, PSB, PR, PSDB, PDT, PSD, PROS, PPL, PPS e
mais nove partidos. Só o PP, do deputado federal Betinho Rosado, ainda não
entrou nesse trem devido ao apoio que dá ao melancólico e falido governo de
Rosalba, que é do seu clã. Rogério Marinho, filho de uma antiga liderança local,
Djalma Marinho, líder do PSDB local e que abandonara a tentativa de “reerguer”
a indústria do RN no governo do DEM, também ungiu Henrique com seu apoio.
A
reunião dos honrados que estão dispostos a salvar o RN deles mesmos, já que
apoiaram o governo que destruiu o RN, também contou com a presença do presidente
da Assembleia Legislativa, Ricardo Motta, dono do PROS, que falou em “mutirão
para o desenvolvimento e resgate do Rio Grande do Norte”. Obviamente que seu
filho, o vereador Rafael Motta deverá ser um cabo eleitoral de Henrique aqui em
Natal. O ex-governador Vivaldo Costa, um coronel do Seridó, que se abriga no
PROS, também anunciou seu apoio a Henrique.
O
senador José Agripino, chefe do DEM, já tratou de escantear sua
correligionária, talvez preparando o terreno para que Henrique o acolha e
garanta a reeleição do seu filho, o deputado federal, Felipe Maia. Parece que o
“projeto político” do DEM resume-se a isso e a tentar eleger alguém para a
Assembleia Legislativa, qual seja reeleger Getúlio Rêgo.
Quem
restou? O vice-governador Robinson Faria, que já fora apoiador de Garibaldi quando
era o presidente da Assembleia Legislativa e que formou chapa com Rosalba
Ciarlini e posteriormente execrado, manteve, pelo menos até agora sua
candidatura a governador e recebeu de braços abertos o PT, que foram “namorado”
pelo PMDB, mas que viu seu projeto político naufragar com a recusa do PMDB em
apoiar Fátima Bezerra ao senado. Já o PCdoB, que parecia esperar um milagre que
novamente unisse entre Henrique e Fátima, agora se debruça sobre as suas prioridades,
que certamente não está nos cargos majoritários e, por isso, apontasse para
todas as possibilidades, numa estratégia que tenta mesclar a sobrevivência
política e a preservação de sua tática mais geral, que é a de defender Dilma.
Entre o chororô que já começou e o alvoroço que certamente virá, a Esquerda
tenta buscar uma saída para o nó que foi dado nas suas pretensões.
Mas...
e o povo, o grande ausente de todo esse processo? Acossado pela violência,
espremido nos transportes (sic) coletivos de Natal, sobrevivendo à duras penas
em meio à estiagem, cabisbaixo nas filas das unidades de saúde e hospitais,
macambúzio diante da falência do ensino público, o “povo”, o eterno ausente,
começará a ser “lapidado” para as grandes festanças que virão e certamente
participarão, nos comícios, mas nunca decidirão.
[1]
Fundado em 2006 pela fusão do Partido Liberal (PL), do vice-presidente José de
Alencar, e do Partido de Reedificação da Ordem Nacional (PRONA), um partido
fascista liderado pelo exótico Enéas.