O
caos na saúde pública estadual tem um histórico rico em descaso, negligência,
omissão e pura safadeza dos governos e gestores[1].
Virou rotina para os cidadãos verem reportagens retratando como os “politicanalhas”
tratam aqueles que, sem recursos para engordarem as máfias da saúde privada, se
veem prisioneiros de um sistema que os condena ao inferno em vida. O sistema de
saúde pública, estadual e municipal, é um exemplo de como um ser humano pode
ser tratado como uma coisa sem importância.
Jeancarlo : denúncia "sensacionalista" do caos? |
A
mais recente polêmica trata da reportagem que foi ar em rede nacional,
mostrando o médico Jeancarlo Cavalcante em plena sala de cirurgia criticando a
falta de condições de trabalho, só que o fez expondo um paciente que, em situação
de risco de morte, estava sendo operado e estava sedado. O local? O campo de
guerra chamado de Walfredo Gurgel, um lugar onde o ser humano sofre a
incompetência direta do governo. Detalhe: Jeancarlo é presidente do Conselho
Regional de Medicina – CREMERN.
Aqui
começa a patética reação do governo do DEM-PMDB. A governadora Rosalba Ciarlini
ROSADO (DEM), ficou espantada com a atitude do médico, e o secretário de Saúde,
Isaú Vilela, com seus 34 anos de experiência na área médica e para quem o problema
“não era o fio de aço da sutura”, disse que tudo não passa de um embate
político entre os médicos e o governo. Simples assim, pelo menos para os
ruminantes.
Isaú : o problema não era o fio e sim a luta política entre os médicos e o governo |
Triunfante,
o secretário de Saúde, demonstrando a face de um governo que pouco se importa
com as pessoas que buscam socorro nos açougues públicos, disse que o
abastecimento do Walfredo Gurgel encontra-se entre 60,0% e 70,0%, como se isso
fosse um grande feito. Algum espetinho pode chegar e perguntar: e não deve ser
100,0%? Num silêncio obsequioso sobre o estado falimentar da saúde estadual, o
secretário de Saúde, como bom auxiliar desse governo, preferiu mudar o foco do
problema.
Só para
lembrar, em 18 de setembro do ano passado o mesmo Jeancarlo denunciou o governo
estadual junto ao Ministério da Saúde, pedindo a intervenção federal no caos
promovido pelo DEM-PMDB na saúde do estado. Antes disso, em 4 de julho, expondo
sua incompetência, o governo já decretara “estado de calamidade pública” na
saúde e propuseram o pomposo Plano de Enfrentamento à Crise da Saúde. Nesse
meio tempo o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Federação Nacional dos
Médicos (FENAM) denunciaram a violação dos direitos humanos no Walfredo Gurgel. Em
13 de janeiro o prazo do decreto de calamidade pública encerrou-se e o caos, de
acordo com os usuários e os que tratam da questão da saúde pública, continua.
E,
de repente, a atitude do presidente do CREMERN, que pode ser questionada do
ponto de vista da “ética médica”, já que nós, usuários, sabemos muito bem que
há muito que discutir com relação à ética e a procedimento daqueles que fizeram
o juramento de Hipócrates, mas que, em alguns não poucos casos, se mostram mais
próximos de prestarem juras ao dinheiro do que ao paciente em si, revela que a
crise na saúde pública estadual, tem atores poderosos na disputa, mas que não
haveria essa disputa se a gerência fosse minimamente responsável.
Não
há inocentes nessa disputa, ou melhor, o inocente é o cidadão, exposto pelo
médico para que este possa denunciar o caos, já conhecido, e jogado em último
plano pelo secretário de Saúde, que centrou fogo na “atitude do médico”,
escamoteando a absoluta falta de compromisso desse governo semi-feudal com a
saúde pública, o que também é do conhecimento geral.
Rosalba : o "povo" tem de ser paciente...no bom sentido é claro |
A
governadora, confiante e cínica, fala nas ações do governo e que a
população deve ter “paciência”, o que me faz lembrar o economista John Maynard
Keynes que, refutando aqueles que viviam fazendo projeções futuras, dizia “no
futuro todos estaremos mortos”, o que, na realidade do RN, aquele que precisar
se atendido no sistema de saúde público, pode encontrar este futuro sombrio
mais próximo do que gostaria.
Esse
teatro do absurdo em que se transformou a gestão pública estadual, dominada por
gestores subordinados ao governo conservador e ineficiente do clã Rosado,
apoiado (ainda apoiado) pelo PMDB e por pequenos chefes de clãs regionais,
mostra que no RN as cenas de desprezo para com aqueles que precisam dos serviços
públicos, continuarão ainda por um bom tempo.
[1] http://www.blogdodanieldantas.com.br/2013/01/incompetencia-faz-estado-perder-r-45.html?utm_source=feedburner&utm_medium=twitter&utm_campaign=Feed%3A+DeOlhoNoDiscurso+%28De+olho+no+discurso%29
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