segunda-feira, 27 de outubro de 2014

VITÓRIA DE DILMA E OS "ENVERGONHADOS DE SEREM NORDESTINOS" : DISCURSO DA IGNORANCIA.



Terminado o processo eleitoral, com a vitória de Dilma Rousseff, com uma apertada margem, vencendo o tucano Aécio Neves por 51,6% a 48,4% dos votos válidos, uma nova onda de ódio pelo Nordeste reverberou nas redes sociais.
Aos olhos desses ignorantes, o Nordeste fora o grande  “culpado” da derrota dos tucanos, devido ao voto dos ignorantes e dos miseráveis sem intelecto suficiente para discernir uma candidatura da outra, como disse o decadente senador do DEM, Agripino Maia, ao sair de uma sessão eleitoral. Os que declararam "ter vergonha do Nordeste" deveriam ter vergonha de serem ignorantes.
O “horror” dessas pessoas desqualificadas é proporcional à sua total ignorância sobre a história e a realidade brasileiras. Quando o Nordeste mendigava e a legião de miseráveis vagavam pelas terras nordestinas, recebendo migalhas dos coronéis e forrava as urnas dos coronéis da ARENA, depois PDS, depois PFL, depois PSDB/PFL não havia esse questionamento.
O “coitadinho” do Nordeste vivia à deriva do desenvolvimento econômico do Brasil e era um bom objeto de estudo de economistas e sociólogos, nos quais se dizia que eram necessários fortes investimentos na região, para tirá-lo do atraso.
Pois bem, desde 2003 isso passou a ser feito e grandes obras de infraestrutura e uma forte política de transferência de renda, garantindo a sobrevivência dos pequenos municípios, gerando pequenas cadeias produtivas locais que, embora débeis, quebraram, em boa medida, os currais eleitorais tradicionais e fazendo com que, mesmo depois de quase quatro anos de uma terrível seca, nossa população não se torne andarilha e estenda a mão para pedir esmolas.
Esse processo refletiu-se em 2006 e em 2010 e agora, com as obras se tornando concretas e dando qualidade de vida aos milhares de nordestinos, seria de uma imbecilidade cavalar que a população nordestina se encantasse pelo discurso de um mineiro cujo partido nada fez pelo Nordeste nos seus oito anos de governo. Pobreza não quer dizer burrice, embora burrice possa conviver com a riqueza.
Não podemos negar o tamanho da riqueza de São Paulo, que representa 33,1% do PIB, o torna uma potência eleitoral, mas também isso não significa que os paulistas são “eleitores diferenciados”, pois já nos deram o maluco do Enéas, o marginal Maluf, o fascista Feliciano, sem falar em Jânio Quadros, um cachaceiro que governou o Brasil e na velhice, governou a cidade de São Paulo. Agora mesmo os paulistas deram a vitória ao tucano que meteu o estado numa crise de abastecimento de água sem precedentes, e no segundo turno não apenas corroborou o voto conservador, como ampliou a margem da vitória de Aécio.
Riqueza não faz de ninguém inteligente e você votar em que lhe enfiou numa seca não pode ser considerada uma atitude inteligente.
Mas quando abrimos o mapa eleitoral (vide tabela), vemos que dos três estados mais ricos do Brasil, dois deram a vitória a Dilma : Minas Gerais e Rio de Janeiro.
ELEIÇÕES 2014 : VOTAÇÃO, ELEITORADO E RIQUEZA

ESTADO
DILMA
AÉCIO
% DO ELEITORADO
% DO PIB
BRASILEIRO
Acre
36,3
63,4
0,35
0,2
Rondônia
45,2
54,9
0,79
0,6
Roraima
41,1
58,9
0,21
0,2
Mato Grosso
45,3
54,7
1,53
1,6
M.G. do Sul
43,7
56,3
1,27
1,2
Goiás
42,9
57,1
3,03
2,6
Brasília
38,1
61,9
1,33
4,0
R.G. do Sul
46,5
53,5
5,87
6,7
Paraná
39,0
61,0
5,50
5,8
Santa Catarina
35,4
64,6
3,40
4,0
São Paulo
35,6
64,3
22,39
33.1
E. Santo
46,2
53,9
1,86
2,2



47,53
62,2
Minas Gerais
52,4
47,6
10,67
9,3
R. de Janeiro
54,9
45,1
8,50
10,8
Bahia
70,2
29,8
7,13
4,1
Sergipe
67,0
33,0
1,01
0,6
Alagoas
62,2
37,9
1,40
0,7
Pernambuco
70,2
29,8
4,45
2,5
Paraíba
64,3
35,7
1,98
0,8
R.G. do Norte
70,0
30,0
1,63
0,9
Ceará
76,8
23,3
4,39
2,1
Piauí
78,3
21,7
1,64
0,6
Maranhão
78,9
21,4
3,15
1,2
Pará
57,4
42,6
3,63
2,1
Amazonas
65,0
35,0
1,56
1,6
Amapá
61,5
38,5
0,32
0,2
Tocantins
59,5
40,5
0,70
0,5



52,16
37,8

 Fonte : TSE. IBGE
O Sul, um bastião conservador, contribui com 16,5% do PIB, e o Nordeste tem 13,5% e considere-se que temos pequenos estados como o RN, a PB, SE e AL, cujas áreas somadas (159.160 Km²)  é menor do que o Rio Grande do Sul (281.748 Km²), ou seja, é necessário que as ponderações sejam feitas com base numa certa coerência. 
É inegável que Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul são estados ricos, mas quem já andou pelo interior desses estados, mesmo nas áreas mais “europeias”, sabe que o nível de educação e de riqueza é alto, mas a ignorância anda lado-a-lado com ela. A ignorância não escolhe regiões e nem o grau de riqueza, pois se assim fosse a Alemanha não teria chacinado mais de 6 milhões de judeus.
Querer que o Centro-Oeste, bastião do ruralismo e do agronegócio, sejam favoráveis a um governo de centro-esquerda, é sonhar com coisas fora da realidade e, por conseguinte, caberia ao PSDB/DEM colher vitórias em grandes colégios eleitorais e ter um bom desempenho no Nordeste. E ai começou a derrota dos tucanos.  Sem ter conseguido obter vitórias nem no segundo e nem no terceiro maior colégio eleitoral, e com um desempenho pífio em toda a região Nordeste, Aécio perdeu as eleições.
Os estados que deram maior votação a Aécio, representam 47,5% do eleitorado e 62,2% do PIB,  e os que elegeram Dilma representam 52,2% do eleitorado e 37,8% do PIB, mas se retirarmos o bólido paulista, estes passam a representar 29,1% do PIB, ou seja São Paulo é o diferencial e não os estados que deram a vitória a Aécio.
E há ainda mais um detalhe. Brasília, que tem 4,0% do PIB brasileiro, é um local onde o grosso da riqueza vem do setor público e não da produção e se levarmos isso em consideração, o “peso” dos estados mais ricos, cai para 25,1%.
O Nordeste deu sim a vitória à Dilma, mas Minas Gerais e Rio de Janeiro foram FUNDAMENTAIS na vitória da petista para que a maioria expressiva feita em São Paulo pelos tucanos, fosse neutralizada.
O resto é chororô de quem perdeu.


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