Nesta quarta (3), o
Instituto de Pesquisas Econômicas Avançadas (IPEA), uma fundação pública
federal vinculada à Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da
República, publicou uma pesquisa que fala sobre as profissões saídas das
universidades. De imediato a imprensa e os blogs, movidos à ignorância e a
fuxicos, deitaram falação sobre os ganhos da carreira médica, tudo isso devido à
polêmica do momento, que é a proposta do governo federal em trazer
profissionais da área médica para atuarem em áreas carentes tanto de recursos
como de médicos.
As corporações médicas
foram às ruas para protestarem contra a proposta e aqui na província, nesta
quarta (3) bloquearam a avenida Hermes da Fonseca, em frente ao açougue, digo,
Hospital Walfredo Gurgel[1].
Dias antes, em 22 de junho, durante a posse da nova diretoria do Sindicato dos
Médicos do RN (SINMED-RN), o senador Paulo Davim (PV), que não teve meio voto
nas eleições, incitou a categoria a irem às ruas para pressionarem o governo
para não “importarem” os médicos cubanos[2].
A Associação Médica do RN (AMRN) também se somou ao protesto.
Nada de estranho que
as corporações se unam por suas demandas, e nada de assustador que, diante de
uma proposta dessas, as mesmas se unam, tal quais as velhas corporações de
ofício, na defesa dos seus membros. Quer melhor exemplo do que as poderosas
corporações do Judiciário?
Mas, na realidade as
noticias publicadas primam pela deformação da divulgação da pesquisa e pegam
carona na postura das corporações médicas, que endureceram o discurso contra a
presidente Dilma.
O que o estudo aborda,
na realidade, é o impacto dos diferentes cursos universitários no desempenho
trabalhista, e isso envolve o ganho salarial, a carga horária de trabalho
dessas categorias, a taxa de ocupação e a taxa de cobertura previdenciária
dessas diferentes categorias[3].
O estudo aborda 48 carreiras diferentes e dá, de forma aproximada um retrato de
como as carreiras se comportam no mercado de trabalho.
Médicos : nem deuses e nem demônios. |
No caso dos médicos, foco
principal dos fuxicos realmente está em primeiro lugar no quesito salários e
também no que se refere à taxa de “empregabilidade”, com 97,1% de possibilidade
de sucesso no mercado. É ainda a quinta categoria mais bem coberta pela previdência,
sendo superada apenas dos militares, serviços de segurança, bibliotecários e
farmacêuticos. Em compensação a carga horária de trabalho dos médicos é uma das
piores, chegando a 42 horas semanais, só superando sete outras carreiras[4].
O estudo serve para
referenciar as diversas carreiras e as expectativas atuais para os que vão
entrar nas universidades, mas não é a expressão definitiva do mercado de
trabalho no Brasil, algo muito mais complexo e que é influenciado por vários
fatores que vão desde a diversidade regional até mesmo as políticas
governamentais.
O debate atual, que
tem sido marcado por posturas reveladoras, acaba por fazer com que as disputas
saiam do terreno da lógica e assumam ares de irracionalidade, alimentadas por
uma mídia que é rápida em publicar notícias deformadas e lentas em investigar o
que há por trás de cada fato.
Os médicos não podem
ser satanizados, mas suas corporações devem ficar atentas ao papel que lhes
cabe nesse processo. Reviver as velhas corporações de ofícios, com discursos
eloquentes e uma roupagem do século XXI, pode não ser a tática mais adequada.
Quem viver verá.
[1] Veja:
http://www.sinmedrn.org.br/noticias/vemprarua-pela-saude-contou-com-a-participacao-de-mais-de-mil-medicos/
[2] Veja:
http://www.sinmedrn.org.br/noticias/solenidade-de-posse-foi-marcada-por-discursos-contra-a-importacao-de-medicos/
[3] Veja:
http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/radar/130703_radar27.pdf
[4] Engenheiros
mecânicos e metalúrgicos, farmacêuticos, engenheiros, contadores, engenheiros
civis, agrônomos e administradores.
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