quinta-feira, 4 de julho de 2013

SALÁRIOS DOS MÉDICOS : NEM SANTOS E NEM DEMÔNIOS!



Nesta quarta (3), o Instituto de Pesquisas Econômicas Avançadas (IPEA), uma fundação pública federal vinculada à Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, publicou uma pesquisa que fala sobre as profissões saídas das universidades. De imediato a imprensa e os blogs, movidos à ignorância e a fuxicos, deitaram falação sobre os ganhos da carreira médica, tudo isso devido à polêmica do momento, que é a proposta do governo federal em trazer profissionais da área médica para atuarem em áreas carentes tanto de recursos como de médicos.
As corporações médicas foram às ruas para protestarem contra a proposta e aqui na província, nesta quarta (3) bloquearam a avenida Hermes da Fonseca, em frente ao açougue, digo, Hospital Walfredo Gurgel[1]. Dias antes, em 22 de junho, durante a posse da nova diretoria do Sindicato dos Médicos do RN (SINMED-RN), o senador Paulo Davim (PV), que não teve meio voto nas eleições, incitou a categoria a irem às ruas para pressionarem o governo para não “importarem” os médicos cubanos[2]. A Associação Médica do RN (AMRN) também se somou ao protesto.
Nada de estranho que as corporações se unam por suas demandas, e nada de assustador que, diante de uma proposta dessas, as mesmas se unam, tal quais as velhas corporações de ofício, na defesa dos seus membros. Quer melhor exemplo do que as poderosas corporações do Judiciário?
Mas, na realidade as noticias publicadas primam pela deformação da divulgação da pesquisa e pegam carona na postura das corporações médicas, que endureceram o discurso contra a presidente Dilma.
O que o estudo aborda, na realidade, é o impacto dos diferentes cursos universitários no desempenho trabalhista, e isso envolve o ganho salarial, a carga horária de trabalho dessas categorias, a taxa de ocupação e a taxa de cobertura previdenciária dessas diferentes categorias[3]. O estudo aborda 48 carreiras diferentes e dá, de forma aproximada um retrato de como as carreiras se comportam no mercado de trabalho.

Médicos : nem deuses e nem demônios.
No caso dos médicos, foco principal dos fuxicos realmente está em primeiro lugar no quesito salários e também no que se refere à taxa de “empregabilidade”, com 97,1% de possibilidade de sucesso no mercado. É ainda a quinta categoria mais bem coberta pela previdência, sendo superada apenas dos militares, serviços de segurança, bibliotecários e farmacêuticos. Em compensação a carga horária de trabalho dos médicos é uma das piores, chegando a 42 horas semanais, só superando sete outras carreiras[4].
O estudo serve para referenciar as diversas carreiras e as expectativas atuais para os que vão entrar nas universidades, mas não é a expressão definitiva do mercado de trabalho no Brasil, algo muito mais complexo e que é influenciado por vários fatores que vão desde a diversidade regional até mesmo as políticas governamentais.
O debate atual, que tem sido marcado por posturas reveladoras, acaba por fazer com que as disputas saiam do terreno da lógica e assumam ares de irracionalidade, alimentadas por uma mídia que é rápida em publicar notícias deformadas e lentas em investigar o que há por trás de cada fato.
Os médicos não podem ser satanizados, mas suas corporações devem ficar atentas ao papel que lhes cabe nesse processo. Reviver as velhas corporações de ofícios, com discursos eloquentes e uma roupagem do século XXI, pode não ser a tática mais adequada.
Quem viver verá.




[1] Veja: http://www.sinmedrn.org.br/noticias/vemprarua-pela-saude-contou-com-a-participacao-de-mais-de-mil-medicos/
[2] Veja: http://www.sinmedrn.org.br/noticias/solenidade-de-posse-foi-marcada-por-discursos-contra-a-importacao-de-medicos/
[3] Veja: http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/radar/130703_radar27.pdf
[4] Engenheiros mecânicos e metalúrgicos, farmacêuticos, engenheiros, contadores, engenheiros civis, agrônomos e administradores.

Um comentário:

Por Wellington Duarte. Tecnologia do Blogger.

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