Enquanto os professores do município de Natal
se digladiam com a Prefeitura em busca de REPOSIÇÃO salarial, os servidores
municipais começam a ventilar a possibilidade de uma greve por melhores
salários, e os estudantes trocaram sopapos com a polícia devido ao reajuste da
passagem de ônibus em Natal, verificamos, nós pobres mortais, que existe um
grupo de pessoas abençoadas pela Graça do Espírito Santo, que foram
contempladas, pelo seu saber único, para receberem salários que qualquer
trabalhador babaria para ter durante um ano.
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Justiça...ah a justiça.... |
Quem são esses “abençoados”? Trata-se de um
seletíssimo grupo de procuradores e promotores do Ministério Público Estadual
(MPE), cuja missão é “promover a justiça, servindo a sociedade na defesa dos
seus direitos fundamentais, fiscalizando o cumprimento da Constituição e das
Leis e defendendo a manutenção da democracia” (MPE-RN) [1], que receberam, em abril,
subsídios, o nome do salário dessas pessoas “especiais”, que variaram de R$
29,5 a R$ 42,2 mil, acima, portanto do teto estabelecido pelo Tribunal de Contas
que é de R$ 23.323,50, que já é, convenhamos, um salário estratosférico. Foram
82 os “abençoados” [2].
Obviamente que foi tudo dentro da legalidade
normativa e, não se assustem, os vencimentos líquidos podem ficar acima dos vencimentos
brutos. Como? Sem magia e com a maestria da burocracia, criou-se a rubrica “outras
remunerações retroativas/temporárias” e pronto, recebe-se acima do Bruto.
Imaginem se isso acontecesse com um “trabalhador normal”? Mas no mundo do
Judiciário, que legisla para si próprio, nada a estranhar. E receber R$ 42 mil em Natal permite uma vida nababesca não acham?
Obviamente que não se trata de achincalhar o
Ministério Público, órgão necessário para a consolidação de qualquer tipo de
democracia, mas sim de observar que num estado deformado, como o brasileiro, as
distorções beiram ao surreal e o Judiciário é, a meu ver, um terreno nebuloso
em que o pedantismo e o culto à sapiência deixam transparecer que pessoas
normais passem a ter a impressão de que são mais especiais do que outras. E por
serem mais especiais, precisam estar em outro patamar e num Brasil desigual,
nada melhor do que expressar sua diferença pela via salarial.
Criar rubricas, legislar para si mesmo, ter
atitudes escancaradamente corporativas e julgar com o chamado “olho de classe”,
é uma característica de um Judiciário que é a expressão de uma sociedade
contraditória.
Esses 82 abençoados não descumpriram a Lei e,
portanto, são cidadãos respeitosos e respeitados, apenas estão numa esfera “diferente”.
Louvemos aos senhores e vivamos no nosso mundo medíocre e morramos de inveja desses "quase-deuses".